Montagem com fotos diversas recolhidas na Internet
O mês de junho revelou algo que
este blogueiro já avisava ano passado: mais um passo foi dado para que nossas
antes tímidas quadrilhas pudessem ser comparadas às imperadoras do Pernambuco.
Entre grupos que quase não puderam se apresentar devido falta de recursos e
grupos que mostraram muito perfeccionismo na escolha de seus temas, o saldo foi
além de positivo, garantindo emoções, admiração e entretenimento àquele que, no
final, mais vale na Açailândia Junina: o público. Dessa forma, é tarefa
hercúlea definir quem e o quê se destacaram em meio a tantos talentos em
movimento e temas cada vez mais refinados. Embora não seja exatamente um
Hércules, K. Fera descreve o que houve de superior ao melhor no ano que a
Açailândia Junina rompeu verdadeiramente todos os limites, alterando o DNA
dessa festa para algo ainda mais sublime.
Melhor arte de banner
Se ano passado tivemos
verdadeiras apoteoses de criatividade, em junho de 2015 esse limite se rompeu
de maneira mais abrangente, chegando inclusive ao tema. Dizem que uma imagem
tem valia superior a mil palavras e no nosso país, onde as pessoas preferem ver
TV a ler um livro, torna a citação ainda mais eficiente. O banner mostra nas
redes sociais não apenas o tema que se deseja falar, mas deve acima de tudo
oportunizar ao público a ideia por quais vias o grupo junino vai seguir para
contar essa história. A suavidade do banner da Koroné conseguiu exatamente
apontar que direção eles estavam mirando. Os elementos da história de amor
entre Solano e Luara em tom lúdico, articulando sonho, fantasia e um pé na
realidade estavam todos lá, materialmente observável. A intersecção entre a
escuridão e a claridade, que muito me agrada, devem ter seduzido esse artista,
inspirando-o para realizar o mais belo banner da nossa Balsas Junina.
Melhor Noivo
Esse pódio é relativamente novo,
afinal escrevo há exatos dois junhos consecutivos, dessa forma ainda não
poderia ver como proeza o fenômeno a seguir. Novamente elejo Lauender França
como o melhor noivo da estação. Cada vez mais o trabalho do noivo da Queridinha
caminha para a perfeição; é incrível como esse personagem real entrega-se para
seus temas, suas coreografias, suas cenas de tal forma, que não há mais como
dissociar Lauender à figura do noivo. "Moça, seus coco". Talvez se algum dia ele venha a ser outro
personagem, discutirei comigo se de fato estou vendo uma apresentação da nossa
Flor. Num de seus melhores momentos, durante a canção “Se tu quiser’,
dançarino e ator se unem em apenas uma face e garante um personagem apaixonado
e verossímil. Como disse, esperamos ele se casar mais vezes em nossos arraiais.
Melhor Noiva
Com uma postagem dedicada somente
a elas, as personagens que carregam o mais trabalhado vestido de seu grupo, tal
pergunta torturou o inconsciente desse blogueiro. Tivemos atuações memoráveis,
portanto cabe aqui novamente imortalizar os nomes de Joselita, Valéria, Ana
Beatriz, Ágda e Gleivane. Há entretanto um fator capaz de definir
tranquilamente quem delas merece uma vírgula a mais de destaque. E a escolhida
foi a artista Joselita Marques. É incrível como o trabalho multiartístico dessa
personagem real é desenvolvido. Joselita entrega-se completamente ao tema de
seu grupo junino e realiza uma façanha: sua personagem toma fôlego e parece
querer saltar do arraial de tanta vida. Grande parte da sua vitória, também se deve então à
personagem que a Imperadora ofereceu: uma noiva que foge do padrão. E exibindo
um dos penteados mais incríveis dos nossos arraiais – talvez por tal surpresa o
adereço do ano passado cobriu quase completamente o cabelo da moça.
Melhores coreografias
Coreografia é um todo. E elas
traduzem bem o fulgor dos grupos juninos. Entre passos mais tradicionais e outros
mais arrojados, as coreografias realçam o poder de uma canção e garantem que nossos
protagonistas dançarinos também se divirtam na execução de uma trilha sonora.
Saber que nossos heróis estão em pleno êxtase quando executam alinhadamente (ou
não) as coreografias propostas, de uma forma que minha limitada condição de
público não permite explicar, toca no coração da plateia. Apesar de várias
conseguirem chegar a isso, uma delas ousou mais que poderia. A nossa querida
Imperadora garantiu tanto que nossos dançarinos se divertissem, como também
incluiu em seu desenvolvimento tampas de panelas, cabos e outros apetrechos que
garantiram novidade ao espetáculo junino em Açailândia. A pegada
coreográfica altamente teatral, que esteve nas mãos de Walisson, Joselita e
Tharles, foi bem sucedida. Esperamos que mais inserções desse nível sejam realizadas!
Destaque coreografias
Impossível mudar de categoria sem
nos lembrar que a representante do Maranhão trouxe o cacete e o coco nas mãos
das nossas damas – e somente nas mãos delas. Porém uma ideia coreográfica
deixou o espetáculo da nossa Flor ainda mais emocionante: a inserção dos
cavalheiros no auge do sétimo minuto do espetáculo foi mais que fabuloso.
Sobretudo porque a música para e eis uma surpresa: nossos cavalheiros transformaram-se
em cercas que prendem as quebradeiras de coco. Decerto, esse é meu momento
predileto, pois há uma simbiose entre música, teatro e coreografia bem próxima
à perfeição! Algo a servir de exemplo.
Melhor canção
Tantas as músicas embalaram a
diversão de nossos jovens açailandenses, mas não há sombra de dúvida que canção
devo eu escolher. Esse ano, a trilha sonora da nossa Queridinha conseguiu
surpreender, emocionar e divertir num balaio só. A escolha do repertório
aliou-se à progressão da história e fez o que uma boa canção também deve fazer
no espetáculo junino: demarcar eventos do enredo. Entre todas, destaco a mais
que excelente escolha do músico tão pouco explorado Genésio Barros, Coco
Livre S/A, que para quem não lembra, guarda o agora imortal refrão “pra
quebrar o coco o cacete tem que ser duro”. Nessa canção, encontram-se
tantos elementos que falam desde o sofrimento à alegria das nossas quebradeiras
e de quem vive do coco. Posso dizer que garimparam uma verdadeira pérola musical!
Destaque Canção
Impossível não se deleitar na
execução de A Lua e o Sol que nossa quadrilha sulista propõe. A riqueza
da canção agarra-se fortemente ao tema e mostra que o repertório da nossa
Koroné não foi definido pelo mero acaso. Trata-se até de uma canção já
explorada, porém a ela ganha ainda mais elegância e fulgor nos trajes e nos
movimentos singulares do grupo junino de Balsas.
Melhor marcador
Um marcador deve disseminar
emoção a um tema de cunho documental ou então trazer ainda mais suavidade a um
tema alegre. Inacreditavelmente, meu eleito Gustavo conseguiu perfazer esses
dois caminhos. O tema da nossa Flor exigia ainda maior voracidade de seu
marcador e tiveram uma excelente surpresa com o menino Gustavo este ano.
Vestindo-se de um personagem condutor de um enredo interessante, o marcador
deixou sua figura se aproximar a do padre Josino fisicamente, vocalizando a
história de amor entre Raimunda e José, além de conduzir a história de luta
atemporal das quebradeiras de coco. Gustavo passeou entre esses momentos de
maneira saudável e contou uma história de dentro para fora. E o mais
emblemático acontece ao final, quando seu personagem é assassinado e deixa-se
nas mãos da personagem Raimunda a triste missão de finalizar o espetáculo. Por
oferecer mais que pedimos, Gustavo é o eleito este ano.
Melhor Figurino
Nossos artistas também tiveram alguns
acessos de criatividade este ano no que diz respeito aos figurinos. Porém a
criatividade se traduziu em representar exatamente os temas que propunham, como
se nenhuma vírgula pudesse escapulir do plano proposto. As cores e os tecidos
respeitaram exatamente o que se queria falar, mostrando um resultado adequado,
porém nem tanto inovador. O quê mais destacaria em matéria de novidade, dentro
dos limites da Açailândia Junina, foram as sandálias trazidas por dois grupos
juninos. Porém, pelo conjunto da obra, elegerei o salto alto. A nossa quadrilha
balsense teve os figurinos, que respeitavam o confronto entre a claridade e a
escuridão, executados impecavelmente! Some-se a isso a exuberância dos
figurinos, que ficaram extremamente elegantes. É lindo observar a Koroné do
alto, vendo as cores de seus tecidos, escolhidos preciosamente, dançarem
alegremente pelo arraial. Graças a essa fantástica impressão que temos com o
produto final, elejo-a.
Destaque figurino
No ano em que não tive grandes
dificuldades de definir quem seria a medalhista dessa categoria, nossa
Queridinha me faz duas surpresas. A primeira, embora seja um efeito até
recorrente entre as devoradoras pernambucanas, a troca de figurino das
quebradeiras no meio da apresentação como um truque de mágica garantiu um
púlpito maior da plateia. E também, não há como não destacar a bela execução
dos figurinos amarelos da rainha e o rei, ambos inspirados no cofo, objeto que
carrega o babaçu. Inicialmente achei que esse elemento deveria estar estampado
em todas as damas, mas logo depois entendi que a nobreza dessa ideia residia em
vestir apenas a personagem destaque desse enredo. Aplausos, Flor.
Melhor enredo
Não há dúvidas que todas as
histórias contadas, seja pelo caráter documental, histórico, mítico ou apenas
de entretenimento tiveram bons enredos. Indiscutivelmente, o enredo dos nossos
Caipiras, dramaturgicamente, é o melhor. A história que nossos heróis do bairro
Plano da Serra versando sobre a busca pela turmalina é muito agradável de se
acompanhar pois naturalmente possui uma progressão adequada e mantém um clímax
emblemático: o momento do aparecimento da Turmalina como noiva − cuja imagem ao lado traduz bem a beleza desse
momento. Acredito que apesar a despeito de outros fatores, o texto puro de
Gleivane e companhia provam que para que boas histórias sejam contadas, elas
não precisam ser inovadoras ou nunca exploradas. Como se conta uma história é o
que interessa ao público. Esse sim precisa sentir estar levando algo novo para
sua existência terrena. Parabéns!
#OlhoAtentoConstrutivo
- A trilha sonora da Imperadora teve
escolhas mais preciosas e outras nem tanto. Porém, o problema reside na seleção
de músicas antigas, que não foram remasterizadas, e causaram alguma estranheza
aos nossos ouvidos.
- A trilha sonora que acompanha a
personagem Cleópatra do grupo Caipiras que entre tantas canções instrumentais,
não foi a melhor escolha.
- A irregularidade dos figurinos
das quatro quebradeiras de coco que iniciam o prólogo da Flor de Mandacaru. Uma
delas (Margareth Marques), em especial, mantém um figurino muito adequado,
desenvoltura espontânea, lembrando uma quebradeira de fato. As demais deveriam
acompanhar um padrão semelhante.
- Algumas músicas da Caipiras já
foram usadas à exaustão em outros arraiais por outras juninas. É preciso
diversificar, correr atrás de canções mais raras.
- Há longos diálogos certamente
cansativos durante a execução do enredo da Arrasta-pé de Açailândia. Quadrilha
precisa dosar preciosamente o tempo dedicado à história e o destinado à dança,
sendo possível até promover os dois no mesmo instante.
- Aprecio o trabalho
multiartístico de Xico Cruz e creio que apesar de não ter incomodado, cabe a
menção de algumas de suas falas terem sido gravadas previamente, quando teriam
ficado bem mais interessantes caso fossem ditas ao vivo.
- A primeira música que abre o
espetáculo da Flor de Mandacaru não foi acompanhada pelos eficientes pulmões
das damas. Uma pena!
- A revelação de qual seria a tal
bebida ficou um tanto bisonha pelo fato de que o público àquela altura já sabia
de que bebida se tratava. Friso isso, pois o que mais me satisfaz no trabalho
da Imperadora é o fato de não haver subestimação à inteligência do público,
assim, tal revelação foi na via contrária a essa proposta.
Agradecimentos a
@TharlesPonciano, @GlauberJúnior, @IgorCamargo, @MatheusAlves, @NaMira, @RoberthNunes.
Até breve,
Carlos K. Fera